As minhas andorinhas, tal qual as ruas, adivinham a minha morte, fingindo a vida. O sono é uma tarde perdida, para a qual não se acordou, às quatro da tarde, ou lá o que é: o mais que se sonhou é pouco para se ver.
O meu amor tem duas coisas pouco claras. E esta é uma delas: por-me a olhar para o que não posso saber. É na distracção que está a felicidade; (...)
Nunca é bom sinal começar a reparar nos passarinhos. Mas as andorinhas são um caso especial. Há ali uma identidade trocada qualquer; um desenho cheio e perfeito, a tinta da china, que pareceu gatafunho a quem não tinha tempo para perder com complicações de uma só cor: preto, branco e azul. E cada preto, cada branco e cada azul, claro ou escuro ou cinzento, conforme a andorinha no momento em que se vê - e quando se diz, sempre muito antes de se ver. Faz o quê? Voa.
Voa apesar de tudo. E, apesar de tudo, voa.
Esteves, Miguel Cardoso - A minha Andorinha
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"Surrealism is the magical surprise upon finding a lion in the closet where one wanted to get a shirt" - Frida Kahlo
Sunday, November 23
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