Hoje, não quero ver além. Não quero radiografar nem reflectir. Não quero entender ou sequer descobrir. Não quero alterar cor ou forma daquilo que vejo nem descortinar olhares nem segredos que não existem. Hoje quero só ver o cru, só hoje. Aquilo que é… simplesmente. O céu é só o céu. As nuvens, nuvens… sem reticências. Sem apertos no peito.
Estrelas são estrelas. Flores... as flores são só papoilas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas,
Nem flores senão flores,
Sendo por isso que lhe chamamos estrelas e flores.
Fernando Pesssoa
"Surrealism is the magical surprise upon finding a lion in the closet where one wanted to get a shirt" - Frida Kahlo
Sunday, August 24
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